Noutro,
Água, só água, de lavar a alma.
Torre seus pensamentos,
Lave a alma,
Recomponha todo seu mar e
Inunde-se de amor.
Lençóis-Maranhanses - Tudo é transitório
Há duas semanas exatamente, só havia areia nas morrarias. E vento. A levar de grão em grão, uma duna pra cá, outra pra lá, esculpindo desenhos, cavando, enterrando, qualquer coisa que houvesse no caminho: ossadas de jegue, de bode, de boi.
Coisas que ousam andar por este deserto – e que não é gente.
A gente anda também. Sob o sol escaldante, vai ao mar buscar peixe, camarão e depois volta pros vilarejos, onde as lagoas perenes garantem a água boa de beber, de banhar, onde cresce um caju, uma manga, um coco, uma sombra pro povo montar casa, roça, acender fogão a lenha, criar as crianças, que correm sem fronteira nem porteira – porque nessa terra de areia não há muito o que possuir.
Tudo é transitório.
Tanto que há duas semanas só existia areia nessas morrarias, mas agora tem água nas lagoas do caminho. Água ora pintada de azul, ora de verde. É que abril chegou e com ele as chuvas fortes. A vida desabrocha, enche as lagoas e até peixe que passa o ano enterrado debaixo da terra sai nadando nessa água tão quentinha que não dá nem vontade de sair de dentro. A gente fica boiando, olhando o céu, contando as nuvens branquinhas. E o pessoal que vem de fora bota nome de lagoa Tropical, lagoa Azul, lagoa Bonita.
Vai ver são bonitas mesmo. E por causa disso resolveram proteger. Criaram o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. “Lençóis!” Foi o que enxergaram os técnicos da Petrobras na década de 1970, quando ficavam voando de avião, a procurar petróleo. As máquinas deles já foram engolidas pela areia também.
Aqui nesse trecho do Maranhão é assim: o mar lá longe no vai-e-volta das enormes marés, e as areias tomando conta da costa, da gente, dos poros.
Quando o vento sopra, a mente vira lagoa, espelho. Apanha poeira enquanto reflete.
Fonte: Revista Vida Simples
Nenhum comentário:
Postar um comentário